Desde nova eu sempre soube que um dia eu iria me casar, mesmo durante a infância, não me encaixando nos padrões de beleza brasileiros, mesmo na época sem ter nenhum namoradinho enquanto as “bonitinhas” tinham filas de meninos a espera de poder dizer-se namorado e andar de mãos dadas, já que nessa época da vida, um namoro resume-se simplesmente em segurar na mão e dizer-se namorado (a).

Na adolescência foi quando desabrochei e finalmente senti o que era ser desejada, nessa época, vamos ser sinceras, o desejo carnal supera qualquer outro, tudo sabemos, nossos pais são uns velhos (mesmo tendo em torno de 40 anos), não sabem nada e parecem que lutam incessantemente para nos derrubar, para nos verem infelizes, são incapazes de compreender que em um final de semana precisamos de no mínimo uns R$100,00 para podermos curtir a vontade, que necessitamos de um carro e que não seja velho, que já somos adultas o suficiente para chegarmos em casa no horário que acharmos necessário, mesmo que não tenhamos trabalho, dependamos de mesada e o único meio de transporte que na realidade temos dinheiro para utilizar é o famoso e velho ônibus coletivo.

Passando por todas essas fases, a vontade de casar, sempre permaneceu ali comigo, e tinha alguns garotos que eram legais para ficar e só, nada de namorar, nem mesmo casar e ter filhos nem pensar, afinal bastava ver aqui e ali, uma amiga, outra conhecida, outra amiga da amiga da amiga que tinha tido filho na adolescência e o pai fez que nem Arlindo Orlando, sumiu, escafedeu-se ou pior ainda, aquele que está presente e a todo o momento você só pensa, seria melhor se tivesse se juntado a Arlindo Orlando.

Minha mãe quando se reunia comigo e com minhas amigas, vendo essa vontade de casar, sempre dizia: “Lembre-se da tia Carolina que casou aos 56 anos de idade, sempre tem tempo” e ao invés de nos tranquilizar, na verdade nos dava um desespero, ter que esperar até os 50 para iniciar uma família.

Hoje em dia, a vida atribulada da mulher moderna que tenta conciliar uma carreira promissora com família, vamos admitir que não é nada fácil, não é fácil trabalhar 12/13 horas por dia, adiciona-se aí mais umas 2 horas no trânsito (se tiver sorte, porque geralmente são mais horas), mais 8 horas para dormir, pronto acabou o dia e ainda tem-se marido e filhos em casa esperando. Realmente não é fácil, é estressante, cansativo, desgastante e por esses motivos que a cada dia que passa as decisões tomadas são pensadas e repensadas milhares de vezes para que no final os objetivos planejados sejam de alguma forma completados ou quase.

Vejo amigas que optaram pela carreira executiva e que são excelentes profissionais, aos 30&Alguns se continuarem se dedicando com a mesma garra e tempo ao trabalho em alguns anos estarão na posição há anos almejada, o que lhes custará? Hoje em dia, graças aos avanços da medicina, não lhes custará muito, apenas terão que adiar por alguns anos os planos de terem filhos e em alguns casos até mesmo de casarem-se, conciliar tudo é muito difícil e ainda vivemos em um país com raízes profundas e machistas, apesar de muitos dizerem o contrário.

Se focarem nos objetivos traçados, com 40&Alguns poderão ter o pacote completo de tudo que sonharam você acha caro? Eu não acho, acho que cada um tem um plano, cada um segue o seu e adiar em alguns anos alguns acontecimentos, faz parte para que tudo funcione como o planejado, ou pelo menos quase, já que a vida é cheia de imprevistos.

E eu? Eu casei aos 25 anos de idade, com a melhor pessoa que eu poderia ter casado meu amigo, companheiro, amante, namorado e marido. Filhos? Ainda não tenho, não por falta de vontade, mas por estar de uma forma ou de outra tentando alcançar o sonho sonhado e filhos no momento iriam de certa forma atrasar ou impedir os acontecimentos. Se fico triste com isso? Às vezes, como muitas mulheres modernas, mas quem disse que dá para ser feliz 100% do tempo querendo tudo e mais um pouco.

– Publicado originalmente no Deusario.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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