Hoje eu vou postar no meu blog um texto que eu traduzi e havia escrito no dia 11 de setembro de 2002, quando estava fazendo terapia e esse texto era parte do tratamento…. Esses bilhetes acima são dos dias 10 de setembro de 2001 (Rio-Miami) e 11 de setembro de 2001 (Miami-Nova Iorque).

“No dia 10 de Setembro eu fui trabalhar, trabalhei até às 20:30h, troquei de roupa, e embarquei no vôo 990 da United Airlines para Miami. Me sentei na primeira classe, ao lado de um senhor, ele era Americano mas vivia no Brasil, estava indo para Miami a trabalho, ele era originalmente do Texas e eu lembrei-me de contá-lo que vinha encontrar meu marido e que estavamos pensando em nos mudar para NY, ele disse que ele não gostou de NY, e que ele só vinha a NY para negócios.

Cheguei ap Aeroporto de Int’l de Miami por volta de 4:00h, passei pela alfndega e imigração, e fui sentar-me à área comum para esperar o meu vôo para NY queestava previsto para decolar as 6:45h. Por volta 6:30h nós fomos informados isso ia ter um pequeno atraso no vôo devido ao clima em NY, e que por isso provavelmente nós íamos embarcar por volta das 9:00h.

Eu creio que por volta das 7:00h nós fomos informados que o embarque não ia demor e que o embarque estava começando do vôo UA1984 com destino a NY.

Durante o vôo para NY, sentou-se ao meu lado um rapaz chamado Robert, e ele me explicou tudo sobre sua viagem ao Brasil, que era para ele estar em NY trabalhando, mas que no dia anterior ele chegou um pouco atrasado no Aeroporto Int´l do Rio de Janeiro e uma colega minha de trabalho da United Airlinesnão o deixou embarcar e ele tinha certeza que era alguma coisa pessoal porque ainda havia um funcionário atendendo no balção de embarque, e eu pedi que ele descrevesse a pessoa, e eu soube que era o Cláudio, e eu tentei explicar para ele que provavelmente ele não pode fazer porque antes do embarque nós tínhamos que seguir os procedimentos de segurança e tomaria muito tempo e que UA não demoraria o vôo por causa de um passageiro….

Eu também me lembro que ele me contou que uma supervisora conversou com ele, e quando pedi o nome da supervisora, quando ele me contou, eu o informei que a supervisora que conversou com ele não trabalhou nesse dia, quando ele descreveu a pessoa que o atendeu eu descobri que outra supervisora lhe informou o nome errado, e nós rimos… então continuamos a conversar sobre sua vida, que ele teve uma namorada brasileira, que foi conhecer a Bahia e o Rio de Janeiro, e que adorou o Brasil….

Tomamos o café da manhã, mas eu não comi, bebi apenas (a refeição eramuffin com ovos – eu não como isso) … então tentei de tirar uma soneca, mas repentinamente o piloto informou-nos que o vôo ia aterrisar em Washington D.C, sem explicar o por que…

Um casal do Reino Unido sentava-se ao meu lado do outro lado do corredor e o marido/namorado estava super nervoso e ficou insistindo com a aeromoça perguntando o que estava acontecendo, que ele não pode ir para Washington D.C, que ele tinha que ir para NY, que a viagem dele estava toda programada e planejada, e ela o informou que não sabia o motivo do desvio…

Eu me lembro que repentinamente aterrissamos e então o piloto informou-nos que um ataque terrorista tinha ocorrido em NY, no WTC… essa notícia levou as pessoas ao desespero dentro da aeronave, muitas pessoas hispânicas não entendiam o que acontecia, então as pessoas traduziam para elas, eu me recordo de pessoas tentando ligar para NY de dentro do avião aterrissado, os rostos aterrorizados, e eu só pensava no dinheiro que eu tinha na minha carteira, US$15, e o que eu iria fazer.

Eu tenho certeza que aquela altura do campeonato as pessoas que estavam dentro da aeronave já sabiam que algo terrível havia ocorrido, mas não tanta noção do que quando saímos do avião e entramos no Aeroporto Int´l e Washington D.C. Logo que desembarcamos , no final do corredor havia várias televisões ligadas mostrando os atentados terroristas e as pessoas assistiam e choravam, algumas pessoas gritavam.

Eu tinha um punhado de moedas (além dos US$15) e tentei ligar para o meu marido e para a minha irmã, não funcionou, as linhas telefônicas em NY haviam caído. O Robert tentava ligar para sua família (celular) desde que estávamos dentro do avião, mas ele não conseguia completar nenhuma ligação…

Nós continuamos lá, parados, observando as cenas como se fosse um filme, não parecia real, não podia ser real, e ao mesmo tempo era tão rea …repentinamente o sistema de som do aeroporto começou anunciar que tínhamos que evacuar a área principal… assistindo a TV víamos que o Pentagono havia acabado de ser atacado por um avião…. Naquela hora eu soube que provavelmente havia uma bomba ou a suspeita de haver uma bomba dentro do aeroporto….

Lembro-me de que começamos a andar em direção dos “shuttles” (tipo de ônibus que leva as pessoas de um terminal ao outro no aeroporto) algumas pessoas estavam realmente nervosas, meu rosto provavelmente estava péssimo, porque me lembro que o Robert me olhou e falou que eu devia permanecer calma e que íamos achar um meio de sair daquela confusão…

Fomos ao carrossel de bagagens, era horrível ali, milhares das pessoas esperando pelas bagagens, eu pensava o tempo inteiro, o que nós fazemos aqui? Provavelmente há uma bomba neste lugar….

O Robert continuou tentando achar a bagagem, nesse meio tempo nós conhecemos a Engrid e a Erika (primas), elas esperavam também por suas bagagens… Não tenho certeza quanto tempo permanecemos alí esperando pela bagagem que nunca veio…

Continuei falando para o Robert que ia ser melhor se partíssemos dali, ele concordou, mas a Engrid havia ido ao toilete, depois ela parou em um orelhão e tentou ligar para NY novamente, finalmente sua prima a convenceu que tinhamos que sair de dentro do aeroporto e nós partimos.

Tentamos alugar um carro ligando para várias locadoras de carros (mas como demoramos esperando pelas malas, todos os carros já havia sido alugados) … então fomos para fora do aeroporto e tentamos pegar um táxi, tomamos um taxi e Robert disse que o melhor a fazer seria tentar alugar um carro fora de Washington D.C , então fomos para Springfield, Virginia.

No caminho para Springfield, Erika pediu ao motorista de táxi para usar seu fone, então ligou para alguns parentes, eu pedi usar o telefone, e eu liguei para casa (mas ninguém atendeu) então liguei para minha irmã. Ela atendeu o telefone, e meu marido estava nervoso querendo falar comigo, e ela também queria falar, então no meio de tudo isso os dois começaram a discutir, os nervos de todos estavam à flor da pele. Não faço a mínima idéia sobre que horas era quando eu finalmente conversei com a minha família, creio que devia ser por volta das 14:00h.

Chegamos a Springfield e tentamos alugar um carro em 2 lugares diferentes, um lugar não funcionou porque teríamos que retornar o carro em Springfield. E o outro não tinha nenhum carro para alugar. Então fomos o hotel Hollyday Inn e esperaramos até às 5:00h para alugar um carro. Então alugamos um quarto e colocamos nossas bagagens de mão láí. Liguei para a minha família outra vez e informei aonde eu estava. Também liguei para os meus pais no Brasil e eles ficaram aliviados ao conversar comigo. Meu pai tentou me fazer permanecer tranqüila, eu acredito que permaneci tranquila durante o tempo inteiro, tentando me concentrar em encontrar um meio de chegar em NY.

Antes das 17:00h nós fomos comer no Bob Evan´s , do outro lado da rua do hotel, a garçonete perguntou de onde nós éramos, explicamos que íamos para NY, que o Robert era do Brooklyn e as meninas (jamaicanas) mas viviam no Bronx.

Depois que comemos voltamos ao hotel, continuamos esperado pelo carro, Robert nos disse para tentarmos descançar, então fomos. Assistimos TV, e ficamos chocados com todas as coisas que aconteciam.

Lembro-me que fui dormir, e as meninas me contaram mais tarde que conversei muito enquanto dormia. Eu não tenho certeza de que horas eram quando acordamo, provavelmente por volta de 20:00h, tomei um banho, as meninas também, e elas foram comprar uma pizza de pepperoni, nós chamamos Robert e todos comemos e assistimos TV. Até então nós já tínhamos decidido que íamos partir a NY no dia seguinte ao amanhecer por volta de 5:00h.

Acordamo por volta das 4:00h, e antes das 5:00h nós partimos para NY.

Lembro-me de que escutamos o rádio durante a viagem inteira, e nós ficamos chocados com a notícia, especial como as pessoas estavam revoltadas com qualquer tipo de imigrante, as pessoas ligavam para a estação de rádio e diziam absurdos contra outros povos, outras nacionalidades. Me lembro somente disto durante toda a viagem e que todas as entradas para NY estavam fechadas.

Mas Robert conseguiu me levar em casa, me deixou na porta, como havia prometido e até hoje eu tenho um carinho imenso por esse anjo que apareceu na minha vida.”

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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