O câncer de próstata é o segundo câncer mais comum entre os homens em todo o mundo, atrás apenas do de pele não-melanoma, e suas taxas de incidência são crescentes no Brasil. Neste Novembro Azul–  uma campanha de conscientização realizada por diversas entidades no mês de novembro dirigida à sociedade e, em especial, aos homens, para conscientização a respeito de doenças masculinas, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata -, para disseminar ainda mais as recomendações para a detecção precoce, o médico patologista clínico, professor da Escola Paulista de Medicina e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, Adagmar Andriolo, esclarece aspectos importantes durante a fase de investigação da doença como, por exemplo, se o exame de sangue PSA (Antígeno Prostático Específico) pode substituir o toque retal?

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou que o ano de 2016 registraria 61.200 casos novos de câncer de próstata, o que corresponde a um risco estimado de 61,82 casos diagnosticados a cada 100 mil homens. De acordo com o Inca, as significativas mudanças sociais e econômicas das últimas décadas têm influenciado o aumento nas taxas de incidência da doença, pois a expectativa de vida dos brasileiros está aumentando, assim como os métodos diagnósticos estão em plena evolução.

Quais são os sintomas mais frequentes do câncer de próstata?
O câncer de próstata em estágio inicial praticamente não possui sintomas, mas em estágio avançado pode causar, por exemplo: micção frequente; fluxo urinário fraco ou interrompido; impotência; presença de sangue no líquido seminal; dor ou ardor durante a micção; fraqueza ou dormência nas pernas ou pés e perda do controle da bexiga ou intestino, devido a pressão do tumor sobre a medula espinhal. O paciente pode, ainda, sentir dores nas costas, quadris, coxas, ombros ou outros ossos, nos casos nos quais a doença já se encontra muito avançada.

Quais são as recomendações para a detecção precoce do câncer de próstata?
Recomenda-se que todos os homens com mais de 50 anos façam o exame digital da próstata, pois em cada seis homens acima dos 50 anos, um é acometido pela doença. Entretanto, a maior prevalência do câncer de próstata ocorre em homens com mais de 60 anos. Em cada 10 casos diagnosticados, o paciente possui mais de 65 anos em seis deles. Aqueles que possuem um alto risco de desenvolver a doença são os que têm um parente de primeiro grau (pai, tio, irmão) que teve diagnóstico de câncer de próstata antes dos 65 anos. Neste caso, aconselha-se que a investigação seja feita a partir dos 45 anos e dos 40 anos para aqueles com mais de um parente de primeiro grau diagnosticado em idade precoce.

Quais são os exames/métodos mais eficazes para a detecção do câncer de próstata?
O exame digital da próstata (toque retal) e a dosagem sanguínea do PSA (Antígeno Prostático Específico) são os procedimentos básicos e complementares para o início do rastreamento. Na sequência, deverá ser avaliada a necessidade de exames de imagem como Ultrassonografia Transretal, Cintilografia Óssea, Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética e/ou Varredura ProstaScint. Dependendo dos resultados, o médico pode indicar a realização de biopsia para fazer a graduação pelo sistema de Gleason.

Com o PSA, é possível dispensar o exame pela via retal?
Não. Com o toque, pequenos tumores podem ser percebidos e, muitas vezes, não são detectados pelos níveis do PSA. Com a realização de ambos, cerca de 90% dos casos de câncer são detectados. O PSA é um biomarcador imperfeito, pois a dosagem do PSA para todos não está isenta de acarretar falsos diagnósticos e excesso de tratamento cirúrgico. Por isso, a tendência atual é fazer uma seleção mais rigorosa dos indivíduos que precisam ser testados, incluindo os que apresentam história familiar de câncer de próstata com evolução rápida e aqueles nos quais o ultrassom e a biópsia mostrem alterações significativas.

Apesar de não ser um biomarcador ideal, o PSA representa a mais bem sucedida experiência de utilizar um marcador sorológico de neoplasia em escala mundial. O seu uso criterioso, junto com outros recursos como o exame de toque retal, tem contribuído para o diagnóstico precoce e adoção de tratamento adequado dos pacientes e, principalmente, tem ajudado a salvar muitas vidas.

O intervalo entre os exames de rastreamento depende dos resultados do PSA:

Os homens com PSA < 2,5 ng/ml a cada dois anos.
Anualmente para os homens cujo nível de PSA é ≥ a 2,5 ng/ml.

O exame de toque retal ainda sofre preconceito?
Sim, por isso aproveitamos a campanha Novembro Azul em prol da conscientização sobre o câncer de próstata para disseminar a importância do exame de toque para o diagnóstico eficaz. Esse tipo de exame pode ser desconfortável para o paciente, mas é rápido e não provoca dor.

A comunidade médica tem discutido possibilidades de melhorar ainda mais os procedimentos para a detecção do câncer de próstata?
Sim, existem vários estudos em andamento propondo a utilização de outros marcadores e até mesmo de variantes do próprio PSA, como o P2PSA que possui maior efetividade. Ainda sobre a detecção de câncer, de 07 a 10 de setembro do ano que vem, terei a honra de presidir o 44º Congresso da Sociedade Internacional de Oncologia e Biomarcadores (ISOBM, em inglês), que ocorrerá no Rio de Janeiro. Será o primeiro Congresso desta Sociedade a ser realizado na América Latina e, sem dúvidas, uma grande oportunidade para que sejam discutidos temas relacionados com o diagnóstico e monitorização do câncer de próstata e de outros processos neoplásicos.

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